sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Deixe-me ir

Desperdicei todas as minhas chances, embarquei nessa viagem apenas com aquele velho jeans que você gostava, minha mochila está cheia de fotos velhas e quase rasgadas, eu devia tê-las queimado. Quando penso no que pode ter dentro dela, lembro que ainda existe uma velha caneta e um bloco onde eu anotava algumas coisas, talvez letras de músicas e outras bobagens corriqueiras, peguei meu tênis de couro, sei que ele não vai me abandonar tão cedo, estou escutando Foo Fighters, nossa banda favorita, e olhando para minhas unhas pretas descascadas lembrei que você odiava esse meu jeito largado de ser, mas que mesmo assim tentou não sair de perto de mim. 

Pensei em trazer seu moletom que ficou lá em casa esquecido, mas ele me traria muitas lembranças, me daria a sensação de estar em seus braços e isso me faria chorar novamente. Desculpe, mas quebrei nosso retrato que ficava sob a estante cheia de livros que eu enjoei de tanto ler, você nem se importava com os títulos ou com a história, mas se eu dissesse um nome você o comprava.


Algumas se passaram já, meus pés doem um pouco e os sanduíches que eu fiz para a viagem estão chegando ao fim, talvez eu coma uma barrinha de cereal. Todas as coisas que eu faço nesse caminho me lembram você, até mesmo essa bala de caramelo esquecida em um dos bolsos junto com as moedas que eu já me esquecera que tinha, você consegue estar presente em todas as coisas que eu faço, impedindo meu pensamento de prestar atenção a outras coisas e traçar outro caminho, mas se ele assim o fizer, talvez meu percurso chegue até você.

Não vou mais olhar para trás, não posso correr o risco de tirar meus fones de ouvido e escutar a sua voz, vou pegar este trem que me levará para longe, para um lugar sem você, sem suas manias, sem suas opiniões que me colocam pra baixo, sem suas reclamações. Afinal... Acho que muito o que reclamar de você, mesmo que seu abraço seja o mais apertado e que ele se encaixe perfeitamente ao meu, mesmo que seu carinho em meu cabelo me faça dormir, suas piadinhas sem graça sempre irão me fazer chorar, suas risadas exageradas irão me constranger, suas crises irão fazer eu me calar, sempre será você a me deixar triste e feliz. 


Então não me ligue, não mande mensagens, não venha atrás de mim, apenas deixe o chocolate quente ao lado da minha cama e o veja esfriar enquanto eu não volto, reclame dos meus sapatos jogados ao chão, chute-os! Eu não voltarei a usá-los também. Por fim, volte para sua casa jogue sua guitarra pela janela e grite com a sua mãe, mas depois lembre-se de que foi você que me fez partir, você que me deixou ir. 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Tudo de mim

E aquele foi o último adeus. As vezes tenho a sensação de que você ainda está aqui, parece que escuto a sua voz e me viro para ver se não é você e quando vejo apenas o vazio, meu coração se enche de saudade, uma saudade que escorre pelos meus olhos que ardem a noite de não conseguir dormir, olhos estes que anseiam em te ver de novo, de te abraçar e sentir o seu perfume na camiseta, aquele perfume que fica em meus cabelos e que eu posso sentir pouco antes de dormir.


Já pensei em comprar o perfume que você usava para colocar em meu travesseiro e poder sentir o seu cheiro durante a noite e talvez, só por um momento ter a sensação de que é em seus braços que estou dormindo. Sua risada alta me fazia sorrir por horas, mesmo que fosse sozinha, o som do violão tocado por você me faz falta, hoje ele ainda está no mesmo lugar, empoeirado, junto com todas as nossa lembranças de todas as tardes de domingo de sol onde você tocava para mim de baixo de uma árvore nos fundos da sua casa. Hoje não consigo nem ao menos passar em frente.


Já faz algum tempo em que tenho ido dormir aos prantos, porque por mais que meu coração me diga que você não se foi, minha cabeça me diz que não é verdade, que eu estou sozinha nesse planeta de pessoas frias, de dias cinzentos e de chuvas tão geladas quanto o meu coração se tornou. Tudo tão triste ao meu redor que as rosas que eu comprei para ter alguma ocupação simplesmente se encheram de tristeza, murcharam e morreram. Pensei que seria mais fácil, que eu ia aprender a viver com essa saudade e que eu iria sair e me divertir por aí, conhecer pessoas novas e até ser capaz de me apaixonar outra vez, mas tudo o que eu vejo é uma cadeira vazia, uma porta que não se abre mais, uma canção que não se ouve, um sorriso que não encanta. 


As vezes tenho medo de que você desapareça de minhas lembranças, assim como muitas outras coisas desapareceram. Quando você se foi levou meu sorriso, meu olhar, levou minhas alegrias, você levou meu ânimo, minha vontade de vida e, quando estou perdida em pensamentos tenho a certeza de que você levou tudo de mim.